Câmara concede Título de Cidadã de Salvador a Vovó Cici

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Foto: Divulgação

A trajetória de vida dedicada a manter e contar histórias dos orixás e da Bahia de Nancy de Souza e Silva, Vovó Cici, foi homenageada na terça-feira (22), com o Título de Cidadã de Salvador.  A “nova identidade” foi entregue à religiosa em sessão solene realizada no Plenário Cosme de Farias, da Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Sílvio Humberto (PSB).

Natural da cidade do Rio de Janeiro, Vovó Cici, 82 anos, é egbomi do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju, iniciada para Oxalá em 18 de janeiro de 1972, e Apetebi do culto de Ifá.
“Vovó Cici é uma mantenedora do legado do povo negro, dos nossos ancestrais. Um patrimônio cultural afro-brasileiro, mulher de axé que usa a voz para romper o silêncio que ainda nos é submetido.   É uma honra para essa cidade tê-la. As palavras não dão conta da emoção dessa noite”, declarou Sílvio Humberto.

A religiosa agradeceu ao vereador pela homenagem. “Não tenho palavras. Só posso pedir que Obatalá sempre abençoe você e que os nossos ancestrais sempre nos orientem. Eu realmente não tenho palavras, só sei contar histórias”, disse, tirando riso de todos. “Qual história vocês querem que eu conte?  Eu acho que quem ganhou hoje foi Ogum, o senhor das batalhas”, disse presenteando a todos com um conto do orixá.

Para Zezé Ifatola, pesquisador da cultura tradicional Yorubá, o recebimento do título é uma colheita do que a egbomi plantou ao longo da vida.  “O tempo da colheita é agora. Yá Cici é uma ancestral em vida e fico em paz em saber que suas histórias serão contadas durantes séculos. Portadora de uma sabedoria que tem comprometimento em passar isso para os outros. Nos ensina todos os dias”, afirmou.

“Ela é uma guerreira, alguém para fazer jus ao axé com uma arma poderosa no momento em que nós precisamos daqueles que saibam lutar. A ela só posso manifestar a minha gratidão”, disse o Babalawo Ifakunday.

Solenidade

A cerimônia de entrega do Título foi iniciada com a entrada de Vovó Cici ao som do Coral Afro Nkorin, que deu literalmente o toque ancestral através dos instrumentos africanos e emocionou a todas as pessoas presentes. A apresentação contou ainda com intervenção coreógrafa do dançarino Clyde Morgan.

“Em cerimônias como essa eu compreendo o porquê de eu estar na Casa: Reconhecer e honrar o povo negro”, disse Sílvio Humberto após a entrega do título.
Além do propositor da sessão e da homenageada, a mesa de solenidade contou a presença de Ângela Luhning, da Fundação Pierre Verger, e das lideranças religiosas Padre Lázaro Muniz, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; Zezé Ifatola Olukemi, Egbe Orunmila Ádi Obatala Adenisa Ifakundayo e do Babalawo Ifakunday, Sacerdote de Ifá.

Trajetória

Vovó Cici, Nancy de Souza e Silva, mulher negra, de 82 anos, egbomi do Terreiro Ilê Axé Opô Aganjú, iniciada para Oxalá, 18 de janeiro de 1972, e Apetebi do culto de Ifá, é patrimônio vivo da cultura da Bahia, como diz Sílvio Humberto.

Mestra e sábia da cultura afrodiaspórica, mulher letrada, culta e amante da leitura, é reconhecida por ser uma grande herbolária – conhecedora das propriedades medicinais das plantas e da magia dos cantos que despertam as propriedades das folhas –, bem como uma exímia contadora de histórias dos Orixás e histórias da Bahia.

Vovó Cici foi assistente direta do fotógrafo, etnólogo, antropólogo e babalawô Pierre Fatumbi Verger e até hoje trabalha no Espaço Cultural da Fundação Pierre Verger como pesquisadora e contadora de histórias. Atua também como escritora e junto a Marlene da Costa e Josmara Fregoneze é autora do livro “Cozinhando Histórias: Receitas, Histórias e Mitos de pratos afro-brasileiros”.

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