Quatro entre cada dez baianos estão com alguma dívida na praça

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Foto: Real Moeda brasileira

Há mais de dois meses, a consultora de moda Karine Rios, 27, não sabe mais o que é dormir direito diante do acúmulo das contas. Desempregada, já bateu em diversas portas em busca de uma nova oportunidade, sem sucesso. “É água, luz, aluguel, comida para mim e meus gatos. Os boletos não param de chegar, e até agora não consegui nada. Às vezes, não me dá nem vontade de sair da cama”, desabafou. Para manter o poder de compra, recorreu aos cartões de crédito –cujas faturas ultrapassam a casa dos R$ 2 mil cada. Além disso, tem dívidas em dois bancos. Karine não está sozinha: essa é a situação de 63,27 milhões de brasileiros em julho, segundo o levantamento mais recente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).

Considerando a população atual do país, é como se um a cada quatro cidadãos estivesse inadimplente. Embora a CNDL não tenha um recorte da Bahia, a situação não é muito diferente por aqui: o Estado possui hoje mais de 4 milhões de endividados, de acordo com dados apurados pela reportagem junto à Serasa e à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), com uma cifra acima dos R$ 13 milhões em despesas não pagas. Apenas em Salvador, são 377 mil famílias com algum compromisso atrasado. A maioria dos devedores está na faixa entre 30 e 39 anos. É o caso da designer Vanessa Silva, 34, que se vendo sem trabalho, também se valeu do cartão de crédito para conseguir comprar coisas básicas, como alimentos e o bujão de gás. “Se você me perguntar quanto eu devo de cartão, não sei te dizer”

José César da Costa, presidente da CNDL, vê os resultados como esperados para o contexto econômico do país – e não deve haver muita melhora, não nos próximos meses. “Apesar da retomada do mercado de trabalho ter sido maior que o esperado, não há previsão de diminuição da inflação ou melhoria nas previsões de crescimento da economia do país”, afirma Costa. “O número de inadimplentes está alto e, infelizmente, a expectativa é que não paremos por aí”. Vale lembrar que a Bahia amarga uma triste estatística: a pior taxa de desemprego do Brasil, que no segundo trimestre de 2022 era de 15,5%, conforme estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há, ainda, 612 mil baianos sem esperança de encontrar emprego, seja por se acharem novas ou velhas demais, ou por verem o mercado de trabalho escasso – os desalentados. Sem renda, as contas vão se acumulando.

O CNDL diz ainda que quase metade (49,35%) das dívidas não honradas no país tem o valor de até R$ 1 mil. Na outra ponta, as dívidas acima de R$ 7,5 mil representam 11% do total de inadimplentes. No que diz respeito à idade do débito, a média é de dois anos. Ou seja: a pandemia pode ter piorado um problema preexistente. “O tempo de atraso da dívida é um dos sinais da dificuldade do brasileiro em regularizar sua situação. O problema fica mais agudo entre os que possuem baixo nível de educação financeira. É fundamental que, mesmo com uma renda menor, as pessoas tenham controle de seus gastos e destinem uma parte de seus rendimentos para a construção de uma reserva de emergência. Assim, caso apareça uma situação inesperada, o destino não seja a inadimplência”, orientou Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil.

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